Química Toxicológica: Implicações da sinergia entre agentes de limpeza domissanitários

 em Ambiental, Saúde

Autora: Savannah Reis

“Limpeza”, filha do latim limpidus, sempre evocou transparência e nitidez, enquanto “higiene”, oriunda da deusa grega Higéia, tornou-se símbolo da manutenção da saúde e da prevenção de doenças desde a praga de Atenas. Ambas as palavras, que remontam a séculos, refletem precisamente a incessante aspiração humana por extirpar impurezas e preservar a vida. Num mundo onde uma única mão carrega cerca de 150 tipos distintos de bactérias, espalhadas por celulares, corrimãos, maçanetas e até pela boca, o ser humano, em sua capacidade inventiva, pariu ao mundo uma miríade de instrumentos destinados à higienização, hoje materializados em nomes populares como Qboa, desinfetantes e sabonetes. Todavia, estes que insinuam-se aliados da saúde convertem-se, quando mal empregados, em perigos capazes de comprometer a vida.

A Mesopotâmia, terra-mãe de parte das primeiras civilizações humanas, registrou, cerca de 4.400 a.C., misturas de água, cinzas e gordura animal, utilizadas pelos sumérios como precursoras do sabão, inicialmente para limpar tecidos e, posteriormente, para cuidados corporais, antecipando o agora chamado processo de “saponificação”. Na Babilônia, por volta de 2.800 a.C., encontraram-se placas de argila que igualmente testemunham o uso de sabonetes primitivos.

Séculos depois, em 1791, Nicolas Leblanc concebeu a síntese de barrilha, possibilitando a fabricação de sabão em larga escala e transformando práticas de limpeza. Entretanto, sua descoberta, apropriada pelo governo revolucionário francês, conduziu-o à ruína e, por fim, ao desespero que o levou à morte.

Entre os séculos XIX e XX, destacou-se o Aparelho de Hoton, engenho que liberava vapor de água com formaldeído para desinfetar ambientes e objetos, inclusive em casos de doenças contagiosas como a cólera. Na Antiguidade, todavia, lançava-se mão de plantas aromáticas e madeiras resinosas, acreditando-se que a fumaça purificava o ar. Hoje, entende-se o desinfetante como produto químico composto por fenóis, aldeídos, alcoóis, halogenados e quaternários de amônio, destinado a reduzir microrganismos em superfícies inanimadas.

Dentre os produtos mais onipresentes, encontra-se o hipoclorito de sódio, a popular água sanitária, branca, quase banal, mas dotada de amplo espectro de ação. Berthollet, em 1785, deu-lhe origem ao produzir a Água de Javel. Fabricado atualmente por eletrólise de cloreto de sódio ou reação de cloro com hidróxido de sódio, o hipoclorito, não obstante sua utilidade, figura entre os principais envolvidos em intoxicações: entre 2020 e 2025, registraram-se 4,6 mil casos, como relata dados da CIATox, da Unicamp.

Grande parte dessas ocorrências nasce das “misturinhas caseiras”, que, vendidas nas redes como poções de limpeza, ocultam o risco de formar gases tóxicos, como o clorofórmio proveniente da mistura de álcool com água sanitária. Tosse, ardor ocular, broncoespasmo e hipóxia figuram entre as consequências.

O caso de Deusenice de Sousa, relatado pela CNN Brasil, ilustra o perigo: ao misturar cloro com desengraxante ácido, provavelmente gerou-se gás cloro, capaz de levar ao colapso cardiovascular. Outro episódio, divulgado pelo G1, narra uma jovem intoxicada após unir água sanitária a um produto de cerâmicas.

Soma-se a isso a importância da leitura rigorosa dos rótulos, cujas exigências incluem composição, advertências, instruções e precauções. A negligência desses detalhes pode resultar em queimaduras, intoxicações e óbitos. Entre os serviços oferecidos pela Prisma Júnior, destaca-se justamente o de rotulagem, concebido com minúcia, detalhamento e estrita conformidade às diretrizes normativas emanadas pela ANVISA e demais órgãos reguladores.

No cotidiano, misturar produtos na esperança de maior eficiência é um erro recorrente. Substâncias como água sanitária e amônia liberam cloraminas, irritantes dos olhos e pulmões; bicarbonato com vinagre libera CO₂ abruptamente, entre outras. Assim, por trás das bolhas e cheiros fortes, escondem-se reações de alto risco que merecem atenção dobrada da sociedade.

Referências bibliográficas
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MIL. Intoxicação por produtos de limpeza: 4,6 mil casos na Unicamp. Disponível em: <https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2025/07/29/ciatox-da-unicamp-tem-46-mil-intoxicacoes-por-produtos-de-limpeza-entenda-o-risco-das-misturinhas-e-cuidados-com-o-armazenamento.ghtml>. A
ÂNDREA MALCHER. Mulher mistura produtos de limpeza para faxina, inala a substância e morre. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/centro-oeste/go/mulher-mistura-produtos-de-limpeza-para-faxina-inala-a-substancia-e-morre/>.
BRADLEY, D. Explainer: Why is mixing cleaning chemicals such a bad idea? Disponível em: <https://www.chemistryworld.com/news/explainer-why-is-mixing-cleaning-chemicals-such-a-bad-idea/4011257.article#/>.

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