Desenvolvimento de Cosméticos Naturais: Desafios na Formulação e Produção
Autor: Matheus Cerqueira
O consumo de produtos cosméticos vem se tornando cada vez mais comum no panorama global, impulsionado pelo maior desejo da sociedade em manter uma boa aparência ou ainda, em cultivar boas condições de saúde, aspectos que ganharam mais espaço no século XXI. Segundo estimativas feitas pela empresa Fortune Business Insights, o mercado mundial de cosméticos tende a alcançar a marca de US$758,05 bilhões até 2032 [1]. Entretanto, paralelamente a essa maior preocupação das pessoas em garantir o seu bem estar e ao maior consumo dos produtos de beleza, emerge os problemas decorrentes do uso exacerbado e cotidiano desses produtos, os quais, muitas vezes, são constituídos de compostos tóxicos, conservantes e pigmentos que, a longo prazo, podem, contraditoriamente ao que se espera, comprometer seriamente a saúde dos usuários.
Como uma alternativa mais sustentável e saudável para os consumidores, é possível destacar os cosméticos naturais. Para que estejam incluídos nessa classificação, esses cosméticos devem ser provenientes, majoritariamente (no mínimo, cerca de 95% da composição) [2], de matérias primas de origem natural, ou seja, que são encontradas diretamente na natureza, como minerais e ingredientes vegetais. É válido destacar que ainda não existe uma regulamentação universal que estabelece as especificações para que um dado cosmético seja considerado natural ou não. No entanto, apesar disso, há normas e padrões, definidos por organizações nacionais e internacionais, que regem a fabricação desses produtos e abordam também sobre os aspectos toxicológicos e questões de biodegradabilidade [3].
Os produtos naturais, em geral, possuem em sua composição muitas vitaminas, agentes antioxidantes, tendem a conferir uma maior compatibilidade a peles mais sensíveis, além de serem ecologicamente corretos, já que geram um menor impacto ao meio ambiente [4]. Assim, trazem consigo muitas vantagens. Porém, muitos desafios e dificuldades se mostram presentes no que tange a sua fabricação, principalmente, se comparada a dos cosméticos sintéticos.
Na formulação dos cosméticos naturais, alguns dos componentes contidos em outros cosméticos não podem estar inclusos, como fragrâncias e corantes produzidos via síntese química, polietilenoglicóis, silicones, dietanolamidas, dentre outros compostos que têm como base o petróleo, o que, de certo modo, é um empecilho à sua produção, dado que certas características e efeitos advindos da não utilização desses ingredientes podem ser diferentes daqueles que se espera, encontrados nos cosméticos sintéticos [5].
A restrição ao emprego de conservantes microbiológicos sintéticos no desenvolvimento dos cosméticos naturais, como a metilcloroisotiazolinona e o fenoxietanol, também pode ser apontado como um desafio, já que esses compostos possuem papel importante na garantia da validade do produto por um bom tempo e alguns ainda atuam como agentes estabilizantes em determinados produtos [5]. Assim, é necessário utilizar outros compostos com essa finalidade. Porém, estes dependem do pH do produto final para que apresente a ação desejada, o que exige maior controle da qualidade da água que estará na composição do cosmético e atenção às boas práticas de fabricação.
Ademais, há outros ingredientes que são utilizados nos cosméticos convencionais, mas que não podem ser aplicados nos naturais e que desempenham funções de emolientes, atribuem determinadas viscosidade e consistência ao produto, coloração, emulsificantes, dentre outras. Dessa forma, os compostos substitutos destes devem garantir as mesmas condições, algo que nem sempre é possível e, por isso, ainda é um desafio alcançar características semelhantes. Para a escolha desses ingredientes é também importante considerar o seu método de obtenção e até mesmo os impactos da vida útil e destino final do cosmético no qual estará contido [6].
Os custos envolvidos na fabricação desses produtos também ainda são elevados, muito por conta das matérias primas naturais requeridas, as quais ainda apresentam maior valor se comparadas às matérias primas sintéticas.
Portanto, há variados fatores que devem ser pensados e que interferem fortemente na produção de cosméticos naturais. A sua fabricação, indubitavelmente, ainda encontra diversos obstáculos, como aspectos de formulação e custos, para maiores escalas de produção e uma consequente adesão no mundo da beleza e bem-estar, mas que, demonstram ser mais sustentáveis em relação aos cosméticos sintéticos.
REFERÊNCIAS
[1] Disponível em: <https://www.fortunebusinessinsights.com/cosmetics-market-102614>. Acesso em: 19 set. 2024.
[2] Cosméticos naturais x orgânicos: conheça a diferença entre os dois. Disponível em:<https://relax.com.br/cosmeticos-naturais-x-organicos-conheca-a-diferenca-entre-os-dois/>. Acesso em: 19 set. 2024.
[3] Conaq, E. Qual A Diferença Entre Cosméticos Naturais E Orgânicos? Disponível em: <https://conaq.com.br/qual-a-diferenca-entre-cosmeticos-naturais-e-organicos/>. Acesso em: 19 set. 2024.
[4] Natural vs. Synthetic ingredients in cosmetics: Benefits, drawbacks, and expert insights. Disponível em: <https://www.chado-cosmetics.com/blogs/the-chado-touch/natural-vs-synthetic-cosmetics-ingredients>. Acesso em: 19 set. 2024.
[5] LTDA., C. C. E.; SP, S. P. Juliana Flor, Mariana Ruiz Mazin, Lara Arruda Ferreira. Disponível em: <https://www.cosmeticsonline.com.br/ct/painel/class/artigos/uploads/f1fdc-CT313_32-38.pdf>. Acesso em: 19 set. 2024.
[6] PINATEL, C. What challenges and actions exist when it comes to green cosmetics? Disponível em: <https://www.sophim.com/en/green-cosmetics/>. Acesso em: 19 set. 2024.
