Nanoencapsulamento de ingredientes ativos em cosméticos

 em Cosméticos

 

Autora: Alice Sá

De acordo com dados de 2022 da Associação Brasileira de Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), o Brasil é o quarto maior mercado consumidor do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, China e Japão. A constante ascensão desse mercado e a facilidade de acesso à informação tem deixado os consumidores exigentes. Dessa forma, não basta que os cosméticos desempenhem funções básicas, eles precisam atuar com máxima eficiência através do desenvolvimento de tecnologias avançadas.

Assim, a nanotecnologia tem se tornado uma forte aliada desse setor, sendo utilizada no desenvolvimento de formulações cosméticas mais estáveis, mais eficazes e com sensorial cosmético diferenciado. Nesse sentido, como é visto em um artigo publicado na SBC sobre a nanotecnologia aplicada em cosméticos, a indústria de cosméticos tem investido cada vez mais em sistemas nanoestruturados para diferentes aplicações, estes podem ser classificados em nanocápsulas, nanoesferas, nanopartículas, nanoemulsões, microemulsões, lipossomas e niossomas. O objetivo deste artigo é discutir as nanopartículas de três tipos: lipídicas sólidas, poliméricas e metálicas.

As nanopartículas lipídicas derivam de emulsões O/A (óleo e água) com a substituição de um lipídio líquido por um sólido. Suas principais características incluem estabilidade física, capacidade de proteção de substâncias instáveis frente a degradação, propriedades oclusivas (capacidade de formar filme sobre a pele) e controle de liberação. 

Existem dois tipos de nanopartículas lipídicas, as nanopartículas de lípidos sólidos (solid lipid nanoparticles, SLN), que são a primeira geração e possuem apenas lipídios sólidos em sua composição, e os vetores lipídicos nanoestruturados (nanostructured lipid carriers, NLC), que são a segunda geração e se caracterizam por apresentarem uma matriz constituída por uma mistura de lípidos sólidos e lípidos líquidos. 

Os NLC têm uma cristalização incompleta, portanto uma maior estabilidade ao longo do tempo, o que vai diminuir o risco de expulsão dos ingredientes ativos durante seu armazenamento, problema encontrado nas SLN. Além disso, a matriz dos NLC possui imperfeições que permitem acomodar maior quantidade de ativos. 

Nos últimos anos, o uso de nanopartículas lipídicas na área de cosméticos tem aumentado. Esses usos estão relacionados ao aumento da estabilidade química de substâncias lábeis, como retinol, coenzima Q10 e derivados de vitamina C, utilizando essas nanopartículas. 

Já as nanopartículas poliméricas apresentam uma matriz sólida constituída por polímeros, que permite obter uma liberação prolongada dos ingredientes ativos encapsulados. Dependendo do modo de produção empregado obtém-se nanocápsulas ou nanoesferas. Nas nanocápsulas, o fármaco pode ser encontrado dissolvido no núcleo oleoso ou adsorvido na parede polimérica. Já as nanoesferas são constituídas de matriz polimérica e não apresentam óleo em sua composição.

A utilização de polímeros para encapsulação de ingredientes ativos é uma alternativa interessante, pois permite mascarar as propriedades físico-químicas dos compostos ativos, melhorando sua interação com as membranas a fim de facilitar sua absorção. As nanopartículas poliméricas destacam-se por possuírem uma alta eficiência de encapsulação, além de proteger os componentes ativos contra degradação. 

A principal aplicação das nanopartículas poliméricas é o desenvolvimento de novas formulações contendo filtros solares, justamente pelas propriedades previamente citadas. Além disso, várias empresas desenvolvem produtos usando a tecnologia das nanopartículas poliméricas, sendo os principais produtos encapsulados as vitaminas A e E, retinol e beta-caroteno. 

Por fim, as nanopartículas metálicas têm sido de grande interesse para a área cosmética, os metais mais usados para essa aplicação são ouro, ferro, platina, prata e óxidos metálicos (em destaque o óxido de zinco e o dióxido de titânio). Nessa área, as nanopartículas metálicas são muito utilizadas como filtros solares físicos, principalmente as compostas dos óxidos citados, devido à sua capacidade de reflexão das radiações solares. 

Neste sentido, a incorporação de nanopartículas de dióxido de titânio em protetores solares protege a pele contra as radiações UVB, enquanto a incorporação de partículas de óxido de zinco protege contra as radiações UVA. Além disso, os tamanhos das nanopartículas permitem um acabamento transparente na pele, o que é mais aceito pelos consumidores.

Conhecendo um pouco do mundo da nanotecnologia, é evidente que a utilização de nanoestruturas para encapsulamento de ingredientes ativos em cosméticos já é uma realidade devido às vantagens que apresentam. Neste sentido, através do estudo e de pesquisas realizadas por engenheiros químicos e farmacêuticos, espera-se que cada vez mais novos produtos ainda melhores cheguem no mercado.

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Referências:

Panorama do Setor, Abrihpec <https://abihpec.org.br/site2019/wp-content/uploads/2024/02/Panorama-do-Setor_Atualizado_12.04.24.pdf> acesso em 05/05/2024

Dos Santos, Claudia Maria Pereira. Nanoencapsulação de Ingredientes Activos em Cosmetologia. 2012. Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade Fernando Pessoa. <https://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/3737/1/Monografia%20final.pdf> acesso em 05/05/2024

DAUDT, Renata M. et al . A nanotecnologia como estratégia para o desenvolvimento de cosméticos. Cienc. Cult.,  São Paulo ,  v. 65, n. 3, p. 28-31,  July  2013 .   Available from <http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252013000300011&lng=en&nrm=iso> acesso em 05/05/2024

Assis, Beatriz Alves. Nanocosmetotecnologia: principais nanoestruturas e suas aplicações. 2018. Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Universidade Presbiteriana Mackenzie <https://adelpha-api.mackenzie.br/server/api/core/bitstreams/cd76e874-0428-4d55-985c-58072a476ec7/content#:~:text=Nas%20nanoc%C3%A1psulas%2C%20o%20f%C3%A1rmaco%20pode,polim%C3%A9rica%20(MORAES%2C%202009).> acesso em 05/05/2024

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