Por Trás do Glamour – Os Desafios do Lixo Químico na Indústria da Beleza
Autora: Beatriz Duran
A indústria de higiene pessoal, de perfumaria e de cosméticos (HPPC) é um dos setores mais lucrativos e em crescimento no mundo, com o Brasil ocupando a posição de terceiro maior mercado consumidor global. No entanto, por trás das campanhas publicitárias que vendem ideais de perfeição e bem-estar, há uma cadeia produtiva que gera uma grande quantidade de resíduos, muitos deles classificados como perigosos devido à sua composição química.
A preocupação com o lixo químico na indústria da beleza não se restringe apenas às embalagens, mas à própria composição dos produtos. Uma dissertação de mestrado analisou 18 marcas de cosméticos labiais, como batons e brilhos, e identificou a presença de 18 elementos metálicos, sendo que 14 deles estavam em mais da metade das amostras. A pesquisa revelou a presença de metais tóxicos como níquel, cádmio, cromo e chumbo. O níquel foi o metal com a maior concentração em mais de 70% das amostras.
Apesar disso, a legislação brasileira não estabelece limites máximos para a presença de metais em cosméticos, diferentemente das normas para alimentos, que são mais rigorosas. Essa falta de regulamentação é perigosa, pois a aplicação direta nos lábios e a subsequente ingestão, mesmo que em pequenas quantidades, podem causar exposição a esses elementos.
A ausência de coleta seletiva eficiente e de sistemas municipais de logística para resíduos especiais também é um empecilho central. Mesmo quando o estabelecimento segrega corretamente seus resíduos, a falta de um canal de destinação final adequado faz com que tudo acabe sendo misturado no aterro ou, pior, em lixões a céu aberto.
Além do volume de embalagens, o desperdício de produto é outro agravante. Uma pesquisa sobre batons mostrou que, em média, 30% do produto não é utilizado devido ao design da embalagem, que impede o acesso ao conteúdo restante. Isso não só contribui para a produção de mais lixo, mas também fomenta um consumo excessivo.
Os resíduos gerados por estabelecimentos de beleza, como salões de estética, clínicas e spas podem ser categorizados conforme sua origem e periculosidade:
- Resíduos comuns: embalagens plásticas, vidros, papéis, toalhas de papel, e restos de produtos não contaminados.
- Resíduos perigosos:
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- Químicos: tinturas capilares, removedores de esmalte à base de acetona, solventes, descolorantes, alisantes, aerossóis (sprays), produtos com fragrâncias sintéticas e cosméticos compostos de metais tóxicos.
- Infectantes: algodões, gazes, luvas e lençóis contaminados com sangue ou secreções durante procedimentos como depilação, podologia ou limpeza de pele.
- Perfurocortantes: alicates, lâminas, bisturis e agulhas.
O descarte incorreto desses materiais, especialmente os perigosos, pode contaminar o solo e a água. A educação e a infraestrutura de coleta seletiva são essenciais para evitar danos ao meio ambiente e à saúde pública, fazendo-se necessário aperfeiçoar a gestão de resíduos e a biossegurança nesses estabelecimentos.
A transição para a economia circular se torna a principal solução para os desafios ambientais da indústria. Em vez de descartar, a ideia é reutilizar, reciclar e regenerar. Grandes empresas do setor já estão adotando práticas mais sustentáveis, como o uso de materiais de origem renovável, a otimização de processos de produção e a reutilização de resíduos em seus próprios ciclos. Essa transição, além de representar responsabilidade ambiental, é também uma oportunidade de inovação e diferenciação no mercado.
O consumidor moderno está cada vez mais consciente e exigente, tornando a sustentabilidade um fator decisivo na decisão de compra.
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Referências:
CARNEIRO, Noélle Guitti Guimarães. Economia Circular na Indústria da Beleza. 2021. Monografia (Graduação em Ciências Econômicas) – Instituto de Economia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2021.
MAEHTA, Patricia. Presença de elementos metálicos em cosméticos labiais: investigação dos impactos na saúde e o descarte no meio ambiente. 2016. Dissertação (Mestrado em Ciências na Área de Tecnologia Nuclear – Materiais) – Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, São Paulo, 2016.
SANTOS, Jullyednna Menezes dos. Gestão de resíduos sólidos: um estudo nas empresas prestadoras de serviços de estética e beleza do bairro Rosa Elze em São Cristóvão (SE). 2023. Monografia (Graduação em Administração) – Departamento de Administração, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2023.
SOUZA, Priscila de Oliveira; DUSEK, Patricia Maria; AVELAR, Kátia Eliane Santos. Resíduos Sólidos Decorrentes da Indústria da Beleza. Semioses, Rio de Janeiro, v. 13, n. 2, p. 113-124, 2019.